segunda-feira, 5 de abril de 2010

Voando

Helane Carine Aragão

São poucas coisas que fazem um viciado em histórias policiais largar a última página de um romance, adiando os fatos mais reveladores da trama. Bem, se o mundo estiver acabando, quem sabe? Prefiro acreditar que uma boa história faz o leitor tão absorto em relação à realidade, que ele nem se dá conta que o mundo se acaba. Mas não tirarei o mérito do autor nessa ocasião. Não há como prender a atenção em um livro com uma criança, com menos de 10 anos, convulsionando, três poltronas a sua frente, em um vôo lotado, há mais de 8 km de altitude, com o aviso de “aperte os cintos” ligado por mais de uma hora e muita turbulência. Não tem estória que possa concorrer com isso!

Enquanto o criminoso degustava rum e confessava os crimes tranquilamente na casa do Comissário, protagonista do conto, e os momentos finais se aproximavam às três horas da manhã em Paris, um grito me tirou do devaneio às 18h30, em algum lugar entre o Rio de Janeiro e Salvador.

-Mãe, mãe!

Uma senhora, entre 35 e 40 anos, saltou desesperada da cadeira da frente, para socorrer um dos filhos sentados logo atrás. A ajuda foi solicitada para o outro que tremia copiosamente e se debatia na cadeira, enquanto os comissários de bordo pediam que um médico voluntário se apresentasse. Uma médica correu pelos corredores e após alguns minutos de exame transferiu o menino para frente do avião onde o posicionou deitado no chão. A partir daí, ninguém prestava atenção em mais nada. Um novo aviso veio em seguida e a aeromoça pediu para que todos permanecessem sentados, com os cintos de segurança afivelados, até porque, a turbulência não havia diminuído. Quinze minutos se passaram até que podemos perceber que o garoto, erguido e colocado sentado, ainda recebia oxigênio. Estabilizado, ele foi conduzido para as primeiras cadeiras da aeronave junto com a mãe, que tentava esboçar um sorriso tranqüilizador e manter a calma ao lado do filho.

Alívio, sobretudo ao ver a médica retornar à poltrona, o comandante avisar que o pouso aconteceria em 15 minutos e o garoto, que andava de cabeça baixa, envergonhado com os olhares curiosos, estava mais preocupado em fechar as calças, abertas durante o atendimento, deixando à mostra a cueca de rapazinho. Comecei a me questionar o que teria acontecido se não houvesse um médico a bordo da viagem. É claro que a tripulação recebe treinamento para tais ocasiões e pela presteza, tranqüilidade e a agilidade da equipe não deixam dúvidas que eles fariam o possível para atender a criança. Mas acredito que isso não pode ser comparado ao atendimento de um especialista da área.

Não fiquei menos satisfeita que a ida ao destino inicial no começo da Semana Santa, pela companhia aérea da minha escolha e aqui cabem aplausos para a Azul (www.voeazul.com.br) que parece crescer e se firmar no mercado, com boas aeronaves Embraer 190) e ótimo serviço de atendimento, tanto terrestre quanto aéreo. Os coockies foram guardados na bolsa, já que o café não pôde ser servido com os contratempos. O livro, apertado entre os dedos, foi fechado deixando a última página da história para ser degustada em casa. O guri, que saiu por último, apesar do oxigênio que ainda recebia, passava bem. A Semana Santa entre amigas no Sudeste deixou gostinho de saudade e quero mais. Abril tem todos os requisitos para ser ótimo!

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