terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Foge, foge Mulher Maravilha...

Helane Carine Aragão


“O jeito é dar uma fugidinha com você(...)” já que a “(...) Mulher Maravilha, foge, foge com o Super homem”! O fato é que o mais interessante no momento é fugir de Salvador, pois ninguém se sente mais seguro nem em colocar a cara para fora da janela de casa.

Na última sexta-feira me vi obrigada a acompanhar duas senhoras com as filhas, turistas de São Paulo, em uma rápida incursão pelo Pelorinho. Não foi nada demais, mas fiquei apavorada ao vê-las pedindo informações ao motorista do ônibus de como e para que lado elas iriam para chegar ao Centro Histórico.

Estávamos no fim de linha da Praça da Sé e, imediatamente, me ofereci para acompanhá-las. Pode ter sido exagero meu, mas a única coisa que passou pela minha cabeça foi a cara das duas senhoras apavoradas com a perda dos próprios pertences e as pobres meninas que voltariam para São Paulo traumatizadas com as férias de verão.

Fiz mais! Orientei em relação aos pedintes e aos “entregadores de presentes”- tática excelente de venda de fitinhas do Senhor do Bonfim e de artesanato local em forma de colares e pulseiras. Excelente, sim. Perceba! O vendedor coloca a fitinha em seu braço, ou o colar em seu pescoço, dizendo que é um presente. Depois da sua cara de satisfação ele pede uma ajuda de dois, cinco, dez reais.

Você desiste, na verdade, de devolver o presente porque a persuasão te deixa decidida a pagar logo o que eles pedem para se ver livre do lengalenga emocional. Alertei para o cuidado com as câmeras fotográficas e depois de vê-las satisfeitas por encontrar e registrar a imagem do Bar da Neuzão (da série apresentada pela rede Globo, Opaió), voltamos para nos divertir descendo o Elevador Lacerda, que em plena alta temporada só possui dois em funcionamento.

Tudo bem! A prefeitura - que, aliás, passava por protestos com um contingente de policiais digno de parada presidencial em frente à Câmara dos Vereadores (Palácio Thomé de Souza)- disponibilizou “amarelinhos” (mini-ônibus de transporte alternativo) para minimizar a espera dos turistas e locais na fila para descer o Elevador que já escorria pela Rua Chile abaixo. Agora me diga: qual é o turista que vai querer descer de amarelinho se a graça é fazer o “tour” pelo Elevador mais famoso do Brasil? Chegamos ao mercado Modelo e aí foi a vez da abordagem das ciganas que só faltam arrancar o seu punho para ler a sua mão de qualquer jeito. Me desculpe, mas dá mesmo vontade de fugir.

Para completar a frustração, da minha parte, (é claro!), as minhas visitantes não conseguiram uma foto com uma das lindas baianas ao longo do Terreiro de Jesus e nas portas de lojas da estirpe da H-Stern no Pelô - já que as figuras autenticamente culturais da nossa terra cobram pela singela lembrança de admiração. O que é uma pena, afinal, as paulistanas não quiseram tirar fotos dos pedintes “abusados”.

Feita minha boa ação do dia, resolvi que tinha que dar encaminhamento aos meus afazeres daquela manhã de sexta-feira. Me despedi das minhas novas amigas, estas felizes pelo fato da minha boa vontade em acompanhá-las, e após colocar a minha bolsa colada ao meu corpo, protegida como um filho recém-nascido, tomei meu rumo até o ponto de ônibus mais próximo para me dirigir ao Campo Grande. Terminado meu compromisso, fui para Itapoan, de ônibus (com licença, mas esse é um dos passeios que mais gosto de fazer. Descer a Ladeira da Barra e pela orla, acompanhar o sol nas águas do mar da Barra até Itapoan). Se não pelos quatro trechos de engarrafamento, o caminho tinha tudo para ser mágico, como sempre foi.

Em Cira, no Posto 12, no quiosque de Carlinhos, minha frustração, que já estava em nível crítico, desabou. Um Kadett velho fazia as honras da praça, tocando um arrocha de péssimo gosto que podia ser ouvido na Pituba ou em Lauro de Freitas, ao desgosto do cliente. Aparelhagem de som de última! A intenção era sentar-me, tranquilamente, e apreciar o movimento das pessoas indo e vindo, como em outros tempos. Quem sabe até me deliciar com o pôr-do-sol cor de abóbora e tons de rosa. Mas, então, um meliante passou correndo e o dono da lanchonete do outro lado da rua gritava impropérios por ter sido recém-roubado.

Voltei para casa, com medo dos olhares que recebia no ponto de ônibus em frente à Igreja enquanto esperava meu transporte, fedido e mal conservado. Fiquei aliviada ao entrar em casa trancar a porta e me sentir segura, e limpa, e em silêncio, e sem obstáculos no caminho. Agora me diga, será que o jeito não é realmente dar uma fugidinha? Até super-herói está caindo fora... Só me resta descobri para onde.

4 comentários:

Anônimo disse...

Interpretação pensativa aqui, assuntos como aqui está dão valor a quem observar neste espaço .....
Entrega muito mais deste blogue, a todos os teus seguidores.

Geórgia Allana disse...

Oie flor, adorei teu Blog! Muito interessante...

Helane Aragão disse...

Obrigada, Geórgia. Seja bem vinda, sempre!

Luks Vieira disse...

Realmente Helane a situação está crítica... nem com todos os heróis que conhecemos daria jeito nessas "particularidades" do setor público, que só aparece no período das eleições... parabéns pela boa ação!!!
Att.,
Luks