quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Debate Mobilidade III- Demandas sociais X interesses políticos

A última mesa redonda do 2º Ciclo de Debates sobre a Copa de 2014, e que discutiu a Mobilidade que Salvador e a Região Metropolitana, no início da noite da terça-feira (6), no auditório do Crea-BA, abordou aspectos da administração pública e a qualidade dos serviços oferecidos pela rede de transporte da capital.

Coordenadora da mesa, a engenheira civil Ilce Marília, da Escola Politécnica, disse que o evento já havia sido programado pelo Crea e pelas entidades atentas à questões de acessibilidade urbana. “Com o advento da copa, atrelamos o tema a esta reunião, com a finalidade de discutir os impactos do Pós-copa. Se não gerar soluções, ao menos a discussão irá apontá-las”.

O arquiteto e urbanista Armando Branco provocou os presentes em relação a intervenção do governo do estado nas questões referentes a administração municipal, já que não existe cobrança por parte da sociedade civil organizada. Branco acredita que a mobilidade, assim como seu uso, estabelece o modelo de gestão de uma cidade. “Mobilidade começa ao sair de casa, a pé, e não poder andar sobre uma calçada. Existem soluções simples para esses assuntos. A prefeitura pode resolver a questão dos passeios metropolitanos, melhorando a qualidade dos caminhos para os pedestres e pessoas com mobilidade reduzida, com a inclusão de rampas de acesso”, listou o urbanista.


A visão do usuário acerca do transporte público que é oferecido em Salvador foi tratada pelo representante do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Salvador (SETPS), Horácio Brasil. “O indivíduo não gosta de ser transportado. Se pudesse ele trabalharia, moraria e teria acesso a todos os serviços necessários em sua rotina, em um mesmo lugar, sem precisar se locomover”.

Uma pesquisa apresentada por Brasil, realizada pelo STEPS em 2007 com 400 pessoas, revelou que entre as queixas da população, 66% reclamam da demora nos pontos de ônibus, 40% sobre a superlotação, 74% dos congestionamentos no trânsito e 97% em relação a segurança dentro dos coletivos. O preço da tarifa não está entre os cinco principais problemas. Segundo Brasil, a maneira com que as linhas de ônibus foram distribuídas, não atende a um esquema lógico. “Se traçarmos no mapa as rotas existentes, o final do traçado irá nos oferecer algo muito parecido a uma macarronada. Elas foram criadas para atender pedidos políticos e não a necessidade da população”.

O arquiteto e urbanista, Carl Von Hausenchild, atribui o caos no sistema de tráfego a má execução e aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano. “A cidade está de calças curtas, por não ter feito bem o dever de casa. Na concepção do documento, ninguém questionou se esse modelo de rede viária acompanharia o processo de desenvolvimento de Salvador e da região metropolitana”. Hausenchild acredita que a solução para os problemas de tráfego seja por meio de cobrança de responsabilidade ao Ministério das Cidades, que aprova os planos diretores.

O arquiteto e urbanista, Carlos Quirino, encerrou a reunião dizendo que os cidadãos perderam a capacidade de indignação. “A responsabilidade de continuarmos vivos, é nossa, porque aceitamos conviver com essa mobilidade que nos é oferecida”. Segundo Quirino, quando o poder público se faz em harmonia política e com participação da sociedade, os resultados deságuam em qualidade de vida para a sociedade.

Helane Bomfim
Data: 7/10/2009

Nenhum comentário: