Por Helane Carine Aragão
Itapoan tem um cheiro especial. Há quem diga que cheira a peixe podre e que as ruas estão sempre sujas. Motorista por aqui é “dono da rua” mesmo, sempre tem alguém conhecido andando sobre a calçada, e você corre o risco de levar uma “cagadinha” de pombo na testa. Mas Itapoan é meu vício. Vício de coisas simples. De gente simples, que te faz parar o turbilhão avassalador da rotina, para reparar coisas que você vê todos os dias e não enxerga. Itapoan mistura tudo. Pretos e brancos, baianos e turistas, gente pobre, gente rica. Homens e mulheres. Mistura o pôr-do-sol com o cheiro de maresia. O barulho dos carros com a gargalhada da mesa vizinha. Tudo junto em harmonia perfeita. O quiosque do Carlinhos é assim. Um amontoado de mesas amarelas, sombreiros azuis, gente diferente fazendo a mesma coisa no meio de um largo circular que fornece quatro direções diferentes. O quiosque é redondo. Feito de tijolinhos vermelho-escuro, envernizados. Suas laterais são janelas sempre abertas durante o horário de funcionamento. O teto é feito de sisal e lembra aqueles chapéuzinho de festa de aniversário. Uma pirâmide circular de palhoça. Dentro do quiosque há três freezers velhos e enferrujados- mas que funcionam que é uma beleza – além de garrafas coloridas com todo tipo de bebida. A cerveja está sempre gelada. Duas amendoeiras em conjunto com os sombreiros, enormes, fornecem sombra às mesas amarelo-ouro do fabricante de cerveja, dispostas paralelamente, umas às outras, até a beirada do largo, quase beijando o asfato da rua. As cores são variadas. O preto da nativa se mistura ao branco do turista, ao amarelo da cerveja, ao marrom do acarajé, ao bege do amendoim cozido, sob um céu azul anil e a folhagem verde das árvores. Sem teto, sem paredes, no meio da praça que fica no meio da rua.
Lugar perfeito para presenciar reencontro de amigos, ainda de pés sujos do futebol na areia e sunga molhada da praia que fica do outro lado da rua. Briga de casais, que emburrados, olham em direção oposta, um para a subida da ladeira asfaltada que desemboca na lagoa do Abaeté e ela, como se pedisse o socorro de Nossa Senhora da Conceição, olha em direção da Igreja azul de Itapoan. Ele de bermuda azul, camiseta verde, tipo regata, boné preto e sandálias havaianas verde-escura, toma cerveja. Ela, enquanto “bufa” de raiva no seu vestidinho estampado, muito curto, toma coca-cola – com gelo e sem limão - e aprecia o desenho do paralelepípedo preto e branco abaixo da sandália amarela, que sobe amarrada no tornozelo. O vento bate na folhagem e perfuma o ambiente com a maresia trazida da praia no fim da tarde que cai, acompanhada do crepúsculo que se vê ao horizonte. O pôr-do-sol do quiosque é um dos mais bonitos já vistos. Uma mistura de: azul, laranja, amarelo e róseo. Enquanto a noite vai chegando, escurecendo o céu, o quiosque continua dinamicamente estático. Parado em meio ao movimento diário, frenético, que o circunda.

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