segunda-feira, 10 de setembro de 2007

TPM


Por Helane Carine Aragão



Hoje acordei deprimida, sentido que nada faz sentido nesta vida de meu deus. Eu me sinto o pior ser do universo.
Não consigo ficar parada. Tudo me causa um nervoso muito grande e estou extremamente fogosa. Sinto que ninguém me ama, ninguém me quer. Olho para a janela e começo a chorar porque está chovendo. Parece que todo mundo está prestando atenção em mim, me achando a criatura mais fútil do planeta. Começo a sentir raiva devido aos olhares, e fazer grosserias é simples como respirar.

Fico me perguntando o que eu fiz em minha vida e programo todas as minhas metas, até então não realizadas, para iniciá-las amanhã, temendo não ter tempo para tudo. Não sinto vontade de trabalhar, de ir à academia, nem de conversar com ninguém. Entre o intervalo de tomar banho e sair de casa brigo com minha mãe, minha irmã, com a moça que trabalha em minha casa, com a cretina que ligou cedo oferecendo um novo produto da Telemar pelo telefone e com o cachorro do vizinho que latiu para mim.

Não consigo ver o telejornal matutino, nem entender o que metade dos meus e-mails queria me dizer. Eu me sinto fraca, cansada, sem energia até para xingar o motorista do ônibus que não parou no ponto e me ensopou com a água da poça de lama, pela qual passou em cima me ignorando. Não sinto fome. No café da manhã, virei o açucareiro, dentro de minha boca, e troquei a bela lasanha servida no restaurante da empresa, por vários sonhos de valsa, enfiados de vez em minha garganta juntamente com os pés-de-moleque. Não consigo dormir e sinto muita insônia.

Não me reconheço. Olho para o espelho e vejo outra pessoa com minha imagem. A pessoa é vinte quilos mais gorda que eu e está completamente desarrumada. Possui olheiras que a fazem parecer um urso panda. A barriga impede a proximidade com a pia, e a cara de bolacha assusta até o mosquito que tenta um ataque fulgás. Dentro da minha cabeça há um trio elétrico realizando um encontro inusitado entre Chiclete com banana, Timbalada e Asa de Águia e nenhum fiscal aparece para realizar fiscalização sobre a altura do som.

O suteã pinica meu seio e minha vontade é de arrancá-lo do meu corpo e jogá-los para bem longe. Mas meus braços se sentem pesados, assim como meu corpo inteiro, que vai se arrastando sem saber para onde está indo, quase curvado em cólicas, o que piora as dores em minha coluna. Resolvo ir ao médico. Preciso de uma droga bem forte que alivie meu sofrimento. A recepcionista é o cão a minha espera e torna tudo mais difícil. Por fim, o médico me chama:


-O senhor deveria instruir melhor a sua recepcionista, Doutor.
-O que houve?
-Não houve nada, por sorte o senhor me mandou entrar. Não gostei da forma que ela me olhou! Ela me olhou com um sorrisinho cínico no canto da boca e me mandou entrar.
O médico balançou a cabeça, analisando as anotações.
- Então, é grave?
-Vou te receitar um calmante. Você deve ir para casa e evitar aborrecimentos.
-Não preciso de um raio-x de face? Pode ser um aneurisma. Ou um exame de sangue! Posso ter contraído uma virose mortal.
-Não, não. Você apenas tentará manter o controle sobre suas ações. Procure ter refeições leves e saudáveis. Caminhe bastante e durma cedo. Se daqui a cinco dias você não se sentir melhor, você me procura novamente.
-O senhor tem certeza?
-Confie em mim.

Saí do consultório mais aliviada. Ainda me restava alguns dias de vida. No caminho Tatiana me ligou me chamando para tomar uns chopps. Recusei. “Estou sob orientação médica”, expliquei. Vai que descobrem que eu tenho uma doença degenerativa e preciso ser internada às pressas para uma intervenção cirúrgica. Melhor não vacilar.

Passei pela frente da minha sorveteria preferida. Não resistir. Entrei e comprei um dos bem grande com bastante cobertura e castanha triturada por cima, além de vários daqueles biscoitinhos deliciosos enfiados ao redor. Perto de casa, passei na padaria e me abasteci de petiscos para a noite, caso me faltasse sono outra vez. Na porta de minha casa, eu esbarrei com minha vizinha. Que proferiu a sentença de morte dela: “Cari, nunca mais eu te vi. Está mais gordinha hein”! Respirei fundo, dei um sorriso amarelo e entrei em casa. Ela escapou de receber uma “pet” de dois litros de coca-cola, ligth, na cabeça. Eu me joguei no sofá, com um pacote de batatas fritas, uma caixa de chocolate bis, e uma bacia de pipocas.

Quase me afogo em lágrimas assistindo “Procurando Nemo” até que peguei no sono.
Acordei minha mãe, no meio da noite, devido a um palavrão proferido em voz alta. Ela correu para ver o que havia acontecido.

-Esqueci de comprar absorvente!

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu acho que entendo você (???) mas, desse jeito é impossível não concordar com os homens: somos complicadas, pacas!