sexta-feira, 9 de julho de 2010

A banca

Helane Carine Aragão

Acordei cansada, com a consciência que vários sonhos se misturaram enquanto eu tentava descansar durante a noite mal dormida. Meu relógio biológico já está habituado a acordar às 6h. Durante essa semana, me condicionei a levantar 15 minutos mais cedo que esse horário. Helen passou a ir com minha mãe para escola, aproveitando o caminho até a fisioterapia. Desde a quinta-feira - ontem, mas parece meses - que me mantenho em casa. Olhei mil vezes a apresentação, achando que não está a altura daquilo que rendeu meu trabalho. Minha monografia.

Resolvi então me desligar e peguei um livro que tinha deixado de lado esses dias. Só larguei as 300 páginas restantes para o final às 22h, na esperança que minha orientadora falasse alguma coisa por e-mail. Nada. Olhei para a nova pilha de livros que criei o hábito de deixar na cabeceira da minha cama, como subterfúgio de fuga da vida real. Desisti de começar um novo, sabendo que ele me levaria até o alvorecer, me deixando esgotada para o dia mais esperado desse ano.

A banca. A defesa do meu trabalho monográfico.

Minha mãe está agitada desde o domingo, o que corroborou com a minha decisão de não fazer alarde sobre o dia da minha apresentação. A nova cirurgia que acontece na terça-feira próxima, tem deixado o sistema nervoso dela em frangalhos. Fiz tudo como de rotina: levantei, acordei minha mãe, preparei o café da manhã dela e de Helen,liguei o computador e esperei, calmamente, ela fazer as reclamações matinais de costume para, então, colocá-la no carro, tirar o lixo, lavar os pratos e deixar a mesa posta para a hora do almoço dela, quando retornar da fisioterapia. Eu não a estarei esperando hoje.Possivelmente, estarei terminando a minha apresentação quando ela perceber que não estou em casa.

Começa a chover e penso que devo sair de casa ainda mais cedo e não correr o risco de atrasos. Salvo a apresentação no meu pen drive, em um CD e mando uma cópia por e-mail dela,para mim mesma, só por garantia. Sinto uma agonia na barriga que não sei explicar o porquê. Nervoso, talvez.Olho para minha casa vazia. Só o som da chuva bate do lado de fora da janela, trazendo um aroma de grama molhada que tanto gosto. Me sirvo de mais uma xícara de café e subo para o meu quarto me arrumar.

Aprovação.

É a única palavra que ronda meus pensamentos durante toda a semana. Olho meu reflexo no espelho e fico imaginando o que vestir. Vou no meu estilo mais confortável: calças jeans, camiseta básica e um salto muito alto para me dar segurança. Uma segurança fútil, assumo. Carrego a bolsa com tudo que acho que vou precisar. Me certifico se o pen drive, o CD e o guarda-chuva fazem parte do conteúdo que levo para fora de casa. Bato a porta da sala e a tranco. Olho para a chuva e respiro fundo.

Vai dar tudo certo...

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