quarta-feira, 9 de junho de 2010

Helane Carine Aragão

Meu querido diário,

Ou eu diria “mon diarie ami”? Melhor continuar no português.

Meu diário amigo,

Não começarei reclamando porque a minha vida está um caos. Um caos completo. Por isso não vou começar reclamando, porque não sei do que reclamar primeiro.

Não me olhe desse jeito!

Se escolhi você como melhor amigo, é, exatamente, por você não poder falar, nem me julgar, nem me reprovar. Você é o meu amigo ideal porque você não fala, só me escuta e não me liga depois de me levar para a cama. Não fazemos sexo. Acho que podemos começar por ai.

Sexo.

Melhor tentar de novo Esse não é um assunto do qual eu queira falar. Até porque, não tem o que falar. Para eu falar sobre sexo, preciso fazer sexo e esse é um assunto que nem anda em alta na minha vida. Entendeu o trocadilho, hein, hein? Diário estúpido. Espere um pouco que vou buscar a cerveja que larguei do outro lado do quarto.

Voltei.

Não me olhe desse jeito!

O quê?

Não é da sua conta se hoje é quarta-feira e eu resolvi beber uma cerveja. Está bem, só vou beber essa cerveja. Eu já disse que não vou beber outra cerveja. Só vou terminar essa, caramba! Caramba, eu...Poss... Ok! Já joguei a cerveja fora.
Que inferno! Onde eu estava? Sim, sexo. Melhor começar de novo.

Querido diário,

Minha vida é uma bosta.

Minha mãe está doente, ficarei desempregada em breve, minha monografia tem prazo curto para entrega, eu não sei porque eu inventei de fazer curso de francês e você me fez jogar a cerveja fora. Não me olhe desse jeito. Merda! Quebrei a unha. Onde está a lixa? Preciso fazer as unhas. Eu sei que para fazê-las eu preciso parar de roer-las. Mas que inferno, eu já tirei a unha da boca.

Não me olhe desse jeito! Do que eu estava falando?

Ah, que maravilha! Sua bateria está fraca. Onde eu coloquei o cabo?

Querido diário...

Por que diabos eu fico te chamando de querido?

Por onde eu começo?

Me mandaram alimentar as coisas positivas e ter pensamento alegres que no final tudo dará certo. Então, vamos lá, de novo. Como se alimenta uma coisa que eu não sei o que é, com coisas positivas? Deixa para lá.

Diário, hoje eu me ferrei no francês. Minha orientadora me mandou reescrever o último capítulo da minha monografia em 24 horas, minha mãe está resmungando, faz meses que não sei o que é um namorado, estou acima do peso e você me fez jogar a última cerveja fora. Meu fim de semana foi para as cucuias, segunda-feira eu faço a prova final do francês e entrego minha monografia e meu cabelo precisa de socorro urgente.

Não me olhe desse jeito!

Onde eu botei o cabo de força?

Estou toda inchada! Minha cara parece um ralador de queijo e minhas mamas parecem roubadas da vovó Mafalda. Já misturei coca-cola-café-e-guaraná-em-pó, bebi tudo numa lata cheia de Red Bull e continuo querendo fechar os olhos. O quê?

Não me olhe desse jeito...

Achei o cabo!

Putz, quebrei outra unha. O quê? Sim, eu ainda tenho unha!

Olha aqui, seu diário de merda:

Minha vida está de ponta cabeça. Tenho vontade de meter a mão na cara de qualquer imbecil que entrar em minha frente e tem um chato que eu não quero para nada me ligando todo dia. Eu só queria sentar aqui, desabafar meus problemas, beber uma cerveja e tentar trabalhar um pouco, mas não... Você tem que reclamar de tudo.

O quê? Não me olhe desse jeito!

Se eu teclo forte demais, se eu não salvo o texto com freqüência, porque eu fico abrindo um monte de pastas, além de carregar sua memória de porcaria e músicas que só servem para ocupar espaço e deixar você lento. Você não me dá atenção, nem pergunta o que eu preciso e só você existe no mundo!Você, você, você!

Merda, quebrei outra unha!

O quê? Você quer ver a unha que eu ainda tenho? Não me olhe desse jeito. Vou te dizer onde en...
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Merda de cabo de força!

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