Clarinha acordou com a cabeça pesada. Estranhou o cheiro que sentiu, mas demorou um pouco até se dar conta que não sabia onde estava. Tentou levantar o corpo moído pelo cansaço e refez todos os passos desde que saiu de casa: roupas, rodoviária, o ônibus, a fuga, as paradas na estrada, o homem bonito parado. Ela arregalou os olhos e uma aflição pela falta de memórias a partir da última lembrança a socou o estômago que roncou alto e lhe provocou náuseas. “Onde eu estou?”
Correu os olhos pelo quarto desarrumado e pela cama, onde agora se encontrava sentada. Passou a mão pelo lençol amarrotado e de novo aquele cheiro tomou de assalto o olfato. A última coisa que lembrava foi que sonhou com o homem mais lindo que havia visto. Depois disso, escuridão. Tudo ficou escuro e ela não conseguia refazer os passos a partir daí. Levantou e deu alguns passos até a porta do quarto. Viu as suas coisas em cima de um sofá, usado, mas em boas condições de uso. Agarrou-as como se segurasse a última alternativa de continuar viva. “Como vim parar aqui? De quem é esta casa?”
Sentiu-se tonta, mais uma vez, e sentou no sofá. O tecido marron macio a aconchegou e ela recostou fechando os olhos. Ainda estava fraca. Sentiu sede e teve vontade de levantar e ir até a cozinha atrás de um copo com água, mas lhe faltou força nas pernas. Precisava sair dali. Daquele lugar desconhecido, mas que estranhamente se sentia segura. Tinha certeza agora que estava sozinha e respirou fundo. O estômago afundou e ela viu tudo ficar escuro novamente.
* * *
Marc entrou no supermercado refazendo a lista mental e tentando não pensar naquelas sensações esquisitas que começara a sentir desde então. Pegou leite, pão, café, manteiga, queijo, presunto, cereal, chocolate em pó, chá, sabonete, champú, condicionador, perfume, desodorante, esponja de banho, pasta e escova de dente, frutas, verduras, carne, frango, sabão em pó, amaciante de roupa, iogurte, chocolate, sorvete, revista de moda e absorvente. Na fila do caixa, se deu conta que nunca comprou nada parecido para ele antes. Fez as contas de cabeça e se descobriu, enquanto pagava a conta, rastreando possibilidades para arrumar mais dinheiro ainda naquela semana. Saiu do devaneio quando uma mãozinha pequena e enrugada pousou delicadamente em cima da sua. Sem alarde, ele olhou para o lado esquerdo abaixo do seu ombro e viu aquele sorriso tão conhecido.
-Como vai a senhora, Dona Laércia?
-Vou melhor agora, Querido! Faz bem para saúde hidratar os olhos com uma visão tão agradável. Fazendo compras para a esposa?
Dona Lalinha, depois de medir aquele homem, alto, forte e moreno, de camiseta regata branca e bermudas jeans, passou os olhos pelas compras que eram empacotadas e achou difícil um rapaz como aquele e vestido daquele jeito, excessivamente simples e atrativo, ler Marie Claire e usar absorvente noturno. Marc respondeu instintivamente.
-Não, não. Estou com uma prima em minha casa. Acabou de chegar do interior. É a primeira vez dela em uma cidade grande e vim buscar alguns artigos de necessidades pessoais mais urgentes, para ela se sentir mais a vontade.
“Por que eu respondi isso? Enlouqueceu de uma vez?”. Enquanto Marc voltava-se para a atendente e finalizava a compra, Dona Lalinha lhe ofereceu um cartãozinho de visita, cor-de-rosa, em papel de maior gramatura. Marc olhou a pequena senhora e de novo para o cartão até que decidiu pegá-lo.
-Você é um bom rapaz por cuidar de sua prima, Querido - disse, Dona Lalinha – A cidade é sempre agressiva para quem a visita pela primeira vez. Seus horários no Le Quartier são sempre incertos e nunca sei quando te encontrar por lá. Devo ir jantar na próxima terça-feira, como de costume, mas caso você e sua prima precisem de alguma coisa, não pense duas vezes em me ligar.
-A senhora sempre foi muito generosa, Dona Laércia. Sobretudo por suas gorjetas. “Bem sei que a senhora quer meus serviços de acompanhante!”. Mas não penso em incomodá-la. Mesmo assim, obrigada.
Com um sorriso de desmanchar um quarteirão, Marc acenou com a cabeça e se despediu daquela senhora de olhares famintos. Pegou as compras e dirigiu-se até o carro estacionado perto da saída. Então voltou a pensar na garota. “Dormiria ainda?”
Assentou as compras no banco detrás, sentou ao volante e deu partida no automóvel. Tirou o cartão de Dona Láercia do bolso e depois de ler as informações nele, voltou a guardá-lo. “Nunca se sabe do dia de amanhã!” Virou a direita na saída do supermercado e seguiu para casa. “Uma coisa de cada vez. Preciso me concentrar no dia de hoje”. Viu o ponteiro do combustível acender, coçou o queixo, suspirou e pegou a estrada em direção ao leste.
Correu os olhos pelo quarto desarrumado e pela cama, onde agora se encontrava sentada. Passou a mão pelo lençol amarrotado e de novo aquele cheiro tomou de assalto o olfato. A última coisa que lembrava foi que sonhou com o homem mais lindo que havia visto. Depois disso, escuridão. Tudo ficou escuro e ela não conseguia refazer os passos a partir daí. Levantou e deu alguns passos até a porta do quarto. Viu as suas coisas em cima de um sofá, usado, mas em boas condições de uso. Agarrou-as como se segurasse a última alternativa de continuar viva. “Como vim parar aqui? De quem é esta casa?”
Sentiu-se tonta, mais uma vez, e sentou no sofá. O tecido marron macio a aconchegou e ela recostou fechando os olhos. Ainda estava fraca. Sentiu sede e teve vontade de levantar e ir até a cozinha atrás de um copo com água, mas lhe faltou força nas pernas. Precisava sair dali. Daquele lugar desconhecido, mas que estranhamente se sentia segura. Tinha certeza agora que estava sozinha e respirou fundo. O estômago afundou e ela viu tudo ficar escuro novamente.
* * *
Marc entrou no supermercado refazendo a lista mental e tentando não pensar naquelas sensações esquisitas que começara a sentir desde então. Pegou leite, pão, café, manteiga, queijo, presunto, cereal, chocolate em pó, chá, sabonete, champú, condicionador, perfume, desodorante, esponja de banho, pasta e escova de dente, frutas, verduras, carne, frango, sabão em pó, amaciante de roupa, iogurte, chocolate, sorvete, revista de moda e absorvente. Na fila do caixa, se deu conta que nunca comprou nada parecido para ele antes. Fez as contas de cabeça e se descobriu, enquanto pagava a conta, rastreando possibilidades para arrumar mais dinheiro ainda naquela semana. Saiu do devaneio quando uma mãozinha pequena e enrugada pousou delicadamente em cima da sua. Sem alarde, ele olhou para o lado esquerdo abaixo do seu ombro e viu aquele sorriso tão conhecido.
-Como vai a senhora, Dona Laércia?
-Vou melhor agora, Querido! Faz bem para saúde hidratar os olhos com uma visão tão agradável. Fazendo compras para a esposa?
Dona Lalinha, depois de medir aquele homem, alto, forte e moreno, de camiseta regata branca e bermudas jeans, passou os olhos pelas compras que eram empacotadas e achou difícil um rapaz como aquele e vestido daquele jeito, excessivamente simples e atrativo, ler Marie Claire e usar absorvente noturno. Marc respondeu instintivamente.
-Não, não. Estou com uma prima em minha casa. Acabou de chegar do interior. É a primeira vez dela em uma cidade grande e vim buscar alguns artigos de necessidades pessoais mais urgentes, para ela se sentir mais a vontade.
“Por que eu respondi isso? Enlouqueceu de uma vez?”. Enquanto Marc voltava-se para a atendente e finalizava a compra, Dona Lalinha lhe ofereceu um cartãozinho de visita, cor-de-rosa, em papel de maior gramatura. Marc olhou a pequena senhora e de novo para o cartão até que decidiu pegá-lo.
-Você é um bom rapaz por cuidar de sua prima, Querido - disse, Dona Lalinha – A cidade é sempre agressiva para quem a visita pela primeira vez. Seus horários no Le Quartier são sempre incertos e nunca sei quando te encontrar por lá. Devo ir jantar na próxima terça-feira, como de costume, mas caso você e sua prima precisem de alguma coisa, não pense duas vezes em me ligar.
-A senhora sempre foi muito generosa, Dona Laércia. Sobretudo por suas gorjetas. “Bem sei que a senhora quer meus serviços de acompanhante!”. Mas não penso em incomodá-la. Mesmo assim, obrigada.
Com um sorriso de desmanchar um quarteirão, Marc acenou com a cabeça e se despediu daquela senhora de olhares famintos. Pegou as compras e dirigiu-se até o carro estacionado perto da saída. Então voltou a pensar na garota. “Dormiria ainda?”
Assentou as compras no banco detrás, sentou ao volante e deu partida no automóvel. Tirou o cartão de Dona Láercia do bolso e depois de ler as informações nele, voltou a guardá-lo. “Nunca se sabe do dia de amanhã!” Virou a direita na saída do supermercado e seguiu para casa. “Uma coisa de cada vez. Preciso me concentrar no dia de hoje”. Viu o ponteiro do combustível acender, coçou o queixo, suspirou e pegou a estrada em direção ao leste.
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