Por Helane Carine Aragão
Há quem diga que a maior escola que existe é a da vida. Eu não discordo completamente. Enquanto esperava o início da minha primeira aula, neste semestre, duas amigas do curso de pedagogia se encontraram. O pátio é formado por mesas compridas estilo piquenique. Os bancos idem. Ocupei uma destas mesas. Entre beijos e abraços de reencontro, entre as estudantes de pedagogia, elas ocuparam a mesa ao lado.
Um delas, aparentemente mais velha, puxou uma série de livros, classificadores e blocos de anotação de um saco plástico. Relatava para a colega, a sua frente e que mastigava freneticamente alguma coisa, que iniciaria um diário para deixar de herança. Havia copiado a idéia de um filme que assistira, onde os personagens escrevinham todo o processo e sensações que sentiam antes da morte. “Ou melhor, só a mulher escrevia”, ela remendou o relato enquanto reclama dos preços pagos pelo material que comprara na papelaria.
- Vinte e sete reais. Um absurdo por um caderno tão fininho! Exclamava a escritora do diário.
-É mesmo. Comentou a colega que ainda comia.
-Por mim! Menina, sabe aqueles filmes que eu reproduzia para vocês no semestre passado?
-Sei sim. Respondeu enquanto dava outra bocada no que comia.
-Pois é! Um amigo do meu marido me disse que eu estava comprando a mídia muito cara. Não estava me rendia quase nada.
-Sei...
-Agora comprei 500 mídias de DVD a um real cada uma. Os filmes, que já baixei pela internet, serão organizados numa pasta, tipo catálogo, e vou disponibilizar para vocês alugarem em minha mão.
-Alugar?
-Sim. O esquema já foi todo pensando. Vocês pegam na quinta e devolvem na segunda-feira. Vou cobrar apenas três reais por filme.
-Ah, legal! Eu quero.
Do outro lado da mesa, uma nova colega que chegara ao meio da conversa, e que também comia se manifestou:
-E você irá vender também? Preciso de um filme pedagógico que custa R$30,00 na internet.
E logo a empresária se prontifica:
-Não compre! Eu irei comprá-lo, fazer cópias e vender a R$ 3,00 reais. Nos vinte primeiros já tiro, com lucro, o valor do investimento.
De fato sairiam “todos” ganhando. As três continuavam conversando. Futuras pedagogas que se preparam para preparar o “futuro do Brasil!”. Piegas, reconheço. A educação baiana! Para arrematar, a empresária profere o golpe de misericórdia, sem perceber minha estupefação. Ela dizia: “Não vou trabalhar durante a faculdade. Sempre descubro uma forma de ganhar dinheiro. Meu irmão tem uma empresa em meu nome. Outro dia fui até esta empresa, para assinar uns documentos que ele havia me pedido. Quando cheguei lá encontrei uma série de contas telefônica sem meu nome. Perguntei o que era e ele me explicou que a Vivo oferece aparelhos de graça para planos-empresa. Descobri isso e solicitei três aparelhos da Motorola do modelo V-3. Vendi cada um por R$ 250,00, já habilitado. Tem vários modelos, quer algum?” Por sorte, meu professor chegou. Subi as escadas, absorta pensando sobre esta tal de reestruturação do ensino tão discutida atualmente.
* * *
Li a publicação de parte do diálogo, vazado antes da sua publicação completa, da caixa preta do acidente do Airbus, vôo 3054 da TAM, no globolog - blog da Globo. Uma série de opiniões e comentários que se seguiam. Era nítido, e quase visível, os dedos apontados culpando o piloto pelo acidente. Ou outros dedos culpavam o Governo pelo asfalto e pela crise aérea. O brasileiro está à busca, sempre, culpados pelos crimes cometidos e divulgados na imprensa, mas são incapazes de punir-se, pela contribuição de crimes pessoais e diários. O discurso para melhorias gira em torno da “salvação” e manutenção da cidadania, via educação. “O futuro está nas crianças!”, alguém se atreve a dizer. “A educação vai nos tirar desta lama”, mas ninguém de fato preocupa-se como esta educação será transmitida. Se for o caso do exemplo que vivenciei na minha volta às aulas, devo abonar um “viva” à educação brasileira!
domingo, 9 de setembro de 2007
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