segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Chefe, o SUS só pode me ver amanhã das 8h às 17h. Volto a trabalhar qualquer dia desses...

Helane Carine Aragão



Ser pobre no Brasil é de lascar! E não falo por mim. Minutos de indignação não valem, nem falam por uma maioria que não tem o básico. Desde a semana passada sofro com dores na coluna. Faltei trabalho na quarta e na quinta-feira e, GRAÇAS A DEUS, os meus superiores entendem a minha condição. Não tenho plano de saúde. Primeiro porque os valores cobrados mensalmente são exorbitantes. Segundo: a minha obstinação impede que eu pague os tais valores exorbitantes. Mas a verdade é que sem o afamado eu não sou ninguém. Após paliativos em casa me rendi e, depois do meu horário de trabalho, resolvi buscar um médico. DO SUS, lógico!


Eu sou uma pobre coitada iludida. Fui à clínica mais próxima da minha casa. Lá estava eu, em plena Avenida Dorival Caymmi às 17h30 (quem conhece sabe e compartilha meu desespero), e o simpático dizendo-me que as senhas são entregues, nessa ordem: 30 às 7h para atendimento pela manhã e 30 às 8h, para voltar pela tarde. Poderia ter questionado porque não entrega logo as 60 de uma vez e deixa o povo lá, esperando atendimento de qualquer maneira, mas era apenas a primeira parada e não quis causar confusão. Perguntei pelo atendimento particular e o querido me informou que esse encerrou às 17h. Ok!
Fui de Itapoan à Boca do Rio. Lá não havia queridos à porta. Aliás, na porta só havia uma corrente por dentro sinalizando a minha tremenda falta de sorte. Resolvi seguir para a Pituba e gastar um dinheirinho para resolver o meu lamento. Na minha primeira parada R$195,00 para o Tio ver o que eu tinha fora os procedimentos (o raio X mais simples de coluna, segundo a moça do balcão que me despachou rapidinho, custava R$ 89,00, mas isso poderia variar a depender do tipo de solicitação que o Tio comandasse). Consulta via SUS? “Só com fichinha às 8h da manhã, Querida”. Saí de lá e atravessei a rua só por “desencargo” de consciência.

No concorrente era mais baratinho: R$150,00 pro Tio ver e mais os gastos com procedimentos diversos. Pelo SUS, “só na clínica que fica na outra rua, mas lá só atende até as 17h”. Azar o meu. Entrei no carro (mamãe estava dirigindo), respirei fundo, engoli meia dúzia de "PQPs" e pedi para ela parar na primeira farmácia que vi.

A televisão vai ficar desligada essa noite.  Picá-la-ei janela abaixo caso passe alguma propaganda do governo tentando me convencer das melhorias realizadas na área da saúde ou me conscientizar que não devo me automedicar (esse hífen caiu?). Ainda no carro, ouvi tia Dilma, chamada diversas vezes pela repórter de presidenta, que o INSS tem que tratar com carinho seus beneficiários. Que todos os serviços aos cidadãos devem ser ágeis e eficazes.

Mas tudo bem. Problema meu que não contratei plano de saúde. A culpa é toda minha. Vou me entupir com os redondinhos que a linda da farmácia me vendeu e, quem sabe, amanhã às 5h eu tenho mais sorte.
Aproveito para deixar um recado ao meu chefe: Não me reclame amanhã ou depois. O SUS não quer que eu trabalhe. Ele só pode me atender no horário do meu expediente. Pode ser que você não me veja o resto da semana... Bem, a contragosto gostaria de comunicar que a dor da coluna melhorou sensivelmente enquanto me mantenho sentada dedilhando esse singelo desabafo. Agora sinto uma ardência sobre os ombros e uma veia não para pulsar na lateral direita do meu pescoço. Bom, acho que terei que escrever outro desabafo.

2 comentários:

Elida disse...

Plano de saúde ajuda mas não resolve. Hoje fui ao PS de um hospital particular porque tenho bursite e tava com muita dor, que não me deixou dormir a noite toda.
Resposta do médico, eu tenho que procurar o médico que me acompanha, médico esse que só tem consulta dia 13/02 pelo plano de saúde.
resultado, o médico do PS me passou um remedinho que nao resolveu problema da minha dor e não me deu atestado porque tenho problema de dor cronica, mesmo eu chorando de dor e dizendo que não conseguia mais trabalhar hoje.

Helane Aragão disse...

Bem vinda ao clube da madrugada. Querendo companhia, estarei aqui a noite inteira de mau humor.

Me solidarizo com a sua dor, amiga!