Helane Carine Aragão
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Imagem :manufactura-manufacturas.blogspot |
Choque. Esse é o sentimento que reina em relação a repercussão das declarações realizadas por Bolsonaro e amplamente divulgadas pela mídia. O que me choca não é perceber que pessoas possuem opiniões diferentes sobre o posicionamento do “político”. O que tem me chocado é a constante inversão de valores que parece ser marca registrada da nossa sociedade ultramoderna. Então tudo bem se o “cara” é contra gays, racista, preconceituoso. E mais: tudo bem ele admitir isso publicamente. Afinal, vivemos uma democracia, essa defendida por alguns como hipócrita por se assustar quando alguém sincero expõe de forma clara e taxativa o que pensa.
Tenho assistido os tais defensores ferrenhos do tal político, já que todos têm o direito de falar o que pensa, produzir verdadeiros discursos em concordância com tal absurdo, sobretudo, por se tratar de uma pessoa pública, comprometida com o bem coletivo. Talvez eu que precise rever o meu conceito de coletivo, já que pelo visto, coletivo não é para todos e, sim, para quem está de acordo com o rótulo imposto por uma minoria ultrapassada. Fico cá me perguntando o que faria você, cidadão democrático, se a professora do seu filho, nas series iniciais, o chamasse na frente de coleguinhas de gorducho quatro olhos? Ou a sua linda princesinha de cabelos claros como o sol de loirinha tapada? Magricela melequenta. Poço de piolho fedorento e coisas meigas do tipo. Creio eu, é claro, que você não se incomodaria com a “pró” que apenas mostra para seu filho ou filha como é se expressar livremente. Divago na ideia e enxergo a cena do seu garçom, depois que você solicita a conta, responder: “Está aqui sua perua desocupada, o prejuízo que o palhaço, tampinha, careca, alcoólatra, seboso que você chama de marido tem que pagar”.
Qual o problema? Existe diferença nas declarações? Afinal, são todos pensamentos verbalizados, em uma democracia que todo mundo tem o direito de dizer o que vem na veneta. Mas é claro que alguns irão dizer: “você não pode comparar as coisas desse jeito! A professora causaria traumas nas crianças e ela tem responsabilidades éticas na formação dos meus filhos. Ela é paga para educá-los”. “O garçom não tem a posição social que eu tenho. Ele tem mais é que procurar o lugar dele!” Ou ainda: “prefiro ser perua a ter meu cabelo duro”. Quanto mais imagino, mais indignada fico. Então os ferrenhos me perguntarão: “Você é a melhorzinha! Você nunca pensa nada politicamente incorreto”. Pensar, pensamos em uma infinidade de coisas. Então, racionalizamos antes de abrir a boca para verbalizar asneiras. Talvez seja isso que nos separa, cidadãos evoluídos, e primatas. Talvez não sejamos tão evoluídos assim. Vai uma banana aí?
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