domingo, 16 de maio de 2010

Vaidade masculina

Helane Carine Aragão

Ele breca o carro bruscamente e estaciona de qualquer jeito na garagem de casa. Respira fundo e resmunga alguma coisa, antes de sair do veículo, batendo a porta com força. Bater a porta do próprio carro com força não é um bom sinal e Carmen prevê dias difíceis pela frente. Ele entra em casa e se acomoda no sofá onde passará algumas noites dormindo mal. A coluna vai doer bastante, ele sabe, mas nada o fará voltar para cama enquanto o rosto estiver queimando de ódio daquela criatura. Quem ela pensa que é para fazê-lo de idiota na frente da turma. Quem ela pensa que é?

-Jairo, você não vem para a cama?

Silêncio. Ela respira fundo e sorri pelo canto dos olhos. A tal da vaidade masculina. Quer tirar um homem do sério? Pode passar na frente da televisão na hora que o time dele cobra um pênalti e colocar a cerveja na parte mais baixa da geladeira. O máximo que você provocará são faniquitos histéricos momentâneos. O que eles não suportam de fato é que você mostre que eles estão errados, quando eles estão tão cheios de razão e donos de si, na frente de outras pessoas.

Não adianta adular, mimar, paparicar e fazer a comida dele preferida, que ele comerá tudo, lamberá o prato, mas continuará te ignorando. Você o fez de bobo. O tirou do pedestal de homem que tudo sabe e tudo conhece. Ele vai tentar te diminuir, fazer você parecer subalterna e inferior a inteligência que ele detém. Um dos primeiros sintomas da vaidade masculina é a agressividade. Ele distribuirá coices e patadas como último subterfúgio da razão. Releve. É tudo coisa do instinto. Então, ele fará o papel da criança malcriada. Fará greve de fome, de diálogo e até de sexo. E não ache que, se por um acaso, ele te procurar para fazer amor com você que tudo estará bem. Ele não está fazendo as pazes com você. Ele apenas não se deu bem na rua, já que usaria a briga como desculpa para estar com outra mulher. Seja otimista, tudo passa. Inclusive o humor. Ele vai se afastar da turma por um tempo, para evitar as gozações. Eles não suportam a gozação. Pura vaidade masculina.

-Marquei um jantar com a turma aqui em casa, sábado à noite, Jairo.

Ele faz de conta que não escuta, ou diz que não quer receber ninguém. O dia chega, os amigos estão à mesa, animados, conversando sobre a copa do mundo que se aproxima.

- Eu gostei daquela copa que aquele jogador, que usa rabo de cavalo, Batistuta, perdeu o pênalti contra o Brasil. Para mim foi um momento maravilhoso!

Jairo puxa a gargalhada entre os convidados, estufa o peito e informa com ar de superioridade:

-Batistuta? Você nem mesmo conhece os jogadores e quer discutir futebol, Carmen. Pelo amor de Deus! O nome dele é Baggio. Roberto Baggio. Mulheres!

Jairo começa a discursar sobre a copa de 1994. Carmen levanta de cabeça baixa e vai para a cozinha buscar a sobremesa. Lúcia vai atrás dela. Vê a amiga virada para a geladeira e lhe dá um tapinha nas costas.

- Esse seu marido, Carmen. Desnecessário! Você está bem?

Carmen vira-se para amiga. O rosto iluminado. Um ar de vitória nos olhos e um sorriso de pura satisfação.

-Agora, eu estou ótima, Lúcia. Agora, eu estou ótima!

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