sexta-feira, 15 de maio de 2009

A VERDADEIRA HISTÓRIA DE CHAPEUZINHO VERMELHO

Helane Carine Aragão
hcabomfim@gmail.com

A verdadeira história de chapeuzinho vermelho tem pouca semelhança daquela contada nos livros infantis. Na verdade, a única semelhança fica por conta do sexo, já que a personagem é feminina. Mas devido às convenções, ela continuará sendo chamada de Chapeuzinho Vermelho durante esse breve relato.

Chapeuzinho era uma garota de 23 anos. Sagitariana. Nasceu em Porto Alegre no dia 17 de dezembro no seio de uma família de descendência alemã, o que explica os seus 1m87 de altura. Sempre foi uma garota sílfide. Belas pernas, mas não mais bonitas do que as da Luana. O cabelo loiro tinha um comprimento que alcançava as ancas. Nunca usou chapéu. Na cabeça , às vezes, só um boné preto, que fazia parte da indumentária que utilizava quando começou a trabalhar aos 17 anos. De vermelho mesmo só o batom. Vermelho sangue, que em noites mais especiais combinava com a cor do scarpin e do vestido preferido, Dior, decote em V e costas nuas.

Conseguiu aliar o estágio que fazia na área de seguros, com a profissão que desenvolveu desde mais nova, além da faculdade de direito que hoje cursa no horário matutino. Queria de fato estudar à noite, mas havia muito choque de compatibilidade entre os horários entre uma atividade e outra. Durante a noite, as visitas são mais solicitadas e o fluxo dos clientes dobra. Sua agenda está completa até 2017. Horários vagos só em caso de desistência e a fila de espera já supera a do SUS.

Filha única de sete irmãos, descobriu o sexo através dos mais velhos e logo em seguida cuidou da iniciação dos caçulas. Quase uma tradição de família. Uma tradição ariana de purificação da raça. Nunca conheceu a avó. Esta faleceu nos campos de concentração nazista, antes mesmo de Chapeuzinho chegar ao mundo.

Engajada na militância política, fundou a primeira entidade de classe voltada para os problemas da profissão, antiga, sem organização trabalhista. Filiou-se ao PT, foi eleita vereadora e viveu um grande amor aos 19, mas a atividade do namorado, Armando Brasil - causou a morte do único amor e junto, levou embora os sonhos e a esperança da menina. Destroçada emocionalmente, Chapeuzinho resolveu mergulhar de corpo e alma, mais corpo que alma, no trabalho e nos estudos. A escolha pelo curso de direito veio depois da primeira causa ganha por danos morais causados por um playboyzinho que a destratou durante uma visita profissional.

A parte do lobo mau também nunca existiu. Lobo é o nome do pastor alemão que divide o apartamento com a garota preocupada com causas sociais. Ela o encontrou abandonado na rua em uma noite chuvosa. Ambos estavam sozinhos. Foi amor e afinidade à primeira vista Os vizinhos dizem que pelo menos duas vezes por semana o pobre animal uiva descontroladamente durante 17 minutos seguidos, como se uma dor estivesse estripando o estômago do animal. Mas ninguém se arrisca a afirmar que ela o maltrata. Há quem garanta que ela, nos raros passeios que promove durante as madrugadas em sua rua, enche de mimos e dedicação o amigo fiel.

Nunca recebeu uma visita, talvez com receio de que o bicho sofra algum tipo de dano emocional. Também não recebe cartas e nenhum parente nunca telegrafou. A síndica do prédio bem que pensou em grampear a linha telefônica para averiguar a procedência da moradora, mas deu com os burros na água. Chapeuzinho não possui um número de telefone fixo. Só usa o celular. São 17. Um para cada operadora, independente da região ou do continente que os números são registrados.

Vive uma vida regrada e no lixo nunca foram encontrados vestígios de doces ou alimentos com alto teor de carboidratos e gorduras. Não faz empréstimos bancários, nem nunca usou o cheque especial. Paga a faculdade à vista e troca o carro zero km de 6 em 6 meses. A cobertura em que mora foi quitada em quatro prestações e todo mês realiza um depósito, não identificado, em uma conta corrente, ao que tudo indica, de um parente próximo. Não possui grandes ambições. Uma vez confessou-me que quer ser a primeira mulher presidente da república do Brasil. Está esperando o momento certo para anunciar a candidatura. E avisa: Se a Dilma tentar passar na frente, não medirá esforços para derrotá-la no primeiro turno. Segundo ela, o Brasil merece alguém de verdade. Se for necessário, até plástica ela se propõe a fazer, nem que seja para colocar uma prótese de silicone nos seios. Para ela, o amor à pátria é algo incondicional e é preciso ter peito, para levar o Brasil nas costas.

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